terça-feira, 28 de outubro de 2008

Basta votar?

Quem mora na cidade do Rio de Janeiro presenciou, nas últimas duas semanas, um debate político de paixão e fervor sem precedentes, pelo menos recentemente. Confesso que, em alguns momentos, eu não sabia se estávamos às vésperas de uma eleição municipal ou de uma final de Libertadores entre Vasco e Flamengo. Criou-se até uma situação em que o caráter de um indivíduo poderia ser medido a partir do canditado que ele escolhesse; como se todas as pessoas conscientes, corretas e movidas pela ética, enfim, todas as pessoas do bem tivessem necessariamente de votar em tal pessoa e em hipótese alguma na outra, estando sujeitas a censura e desmoralização públicas em caso contrário.

Criou-se a imagem de um mocinho, bastião da decência, contra um supervilão, maquiavélico e "retróóóagrado".

Devo dizer que todo esse marketing quase deu resultado. A diferença foi de apenas 55 mil votos, num ambiente de mais de 4 milhões de eleitores.

Mas este não vai ser mais um texto de alguém chorando uma derrota nas urnas, até porque o candidato em que votei veio a ser vitorioso. Antes de mais nada, passa a ser do meu interesse acompanhar o que a pessoa em quem votei vai realizar na prefeitura, e acho muito saudável a vontade que surgiu na cidade de se banir a corrupção e se fazer a lei ser cumprida.

O ponto que quero tocar, ou melhor, o que eu quero questionar é o seguinte: todos nós que buscamos uma cidade melhor, uma vida melhor, o que temos feito? Em meio a toda essa mobilização, de que forma nos comportamos? Exigimos ser governados por políticos que se pautem na ética e na honestidade, mas será que somos éticos e honestos? Será que cumprimos as leis?

Quando somos parados no trânsito, aceitamos pagar a multa ou preferimos "presentear" o guarda? Aliás, quantas vezes por semana paramos no sinal vermelho? Quantas vezes deixamos um(a) idoso(a) passar na nossa frente para pegar um ônibus ou um táxi? Será mesmo que nunca procuramos um cambista para comprar um ingresso no Maracanã, São Januário ou Engenhão? Será que os produtos de grife que estão em nossos armários foram todos comprados em lojas legalizadas? Respondamos com sinceridade: o que cada um de nós faria se achasse uma bolsa com 10 mil dólares jogada no chão?

Eu poderia escrever páginas com questionamentos deste gênero, mas prefiro resumir numa frase: é muito fácil ser cidadão honesto a cada quatro anos. Reclamamos que os políticos só se lembram do povo em época de eleição, mas será que nos comportamos como verdadeiros cidadãos todos os dias? Pergunte a si mesmo: "Será que eu poderia ser exemplo pra alguém"?

Não basta votar num candidato e depois se queixar com Deus e o mundo por ele não se eleger. Ser cidadão não se resume a encher a boca com discursos elaborados em defesa de A ou B. Ser cidadão é fazer o que está por ser feito, é não sujar, não subornar, trabalhar (ou estudar) com afinco, respeitar o próximo, respeitar a si mesmo... e muito mais.

Ser cidadão é mais do que simplesmente cobrar do prefeito. Se um dia entendermos isso, aí sim nossa cidade começa a mudar.

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