segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Depois da abstinência

Chega uma hora em que a gente percebe que escrever não é simplesmente uma questão de inspiração. Quem escreve tem algo a dizer, mesmo que não saiba como fazê-lo. Mesmo que as palavras não pareçam boas o suficiente para serem expostas ao mundo. Quem escreve tem uma enorme necessidade de ser sincero e dividir suas idéias, angústias e sonhos com quem se dispuser a ler. Ao mesmo tempo sabe que tudo o que está à vista das pessoas fica sujeito ao julgamento: aprovação ou rejeição. Mas ninguém gosta de ser rejeitado...

Talvez por esse motivo as pessoas que escrevem tenham uma terrível auto-crítica que pode colocar por terra toda aquela sinceridade que se deseja ter. Quantos esboços são feitos até que se ache uma combinação de palavras e vírgulas que pareçam adequadas para se oferecer a quem as lê? Quem escreve, se expõe. Arrisca-se ao assumir publicamente sua visão do mundo. Arrisca-se a ser aclamado ou execrado. Arrisca-se até a estar desatualizado diante de alguma famigerada revisão gramatical. Arrisca-se a usar um trema onde não mais existe e arcar com as conseqüências disso.

Mas, principalmente, quem escreve mostra seu rosto mesmo que a sua volta só se vejam máscaras. Ou deveria ser assim. É o que penso, pelo menos.

Pode parecer besteira. Talvez até seja. Mas quem escreve sente que pode chegar um pouco mais além do que já foi. Tem a chance de perder o medo de tentar ser autêntico. Ou melhor, tem a possibilidade de mostrar algo novo.

Mesmo que ninguém leia.

No fim das contas, quem escreve muitas vezes nem sabe por que escreve. Mas o prazer de escrever faz querer sempre mais e a sua ausência faz com que pareça faltar algo. Como se a alma ficasse amordaçada.

Quem escreve sabe: escrever causa dependência.

Um comentário:

Catarina Chagas disse...

Bom ter você de volta aqui!
Beijos