Elas: as palavras
De um jeito ou de outro a palavra que se escondia da língua volta a aparecer. Nem que seja por necessidade, numa busca por algo que precise ser expresso. Busca-se a palavra chave do que se sente como quem cava a terra ressecada a procura de água. A palavra sempre está ali.
Talvez as palavras nunca sumam, mas nós mesmos as escondamos quando não queremos escutá-las. Nem sempre estamos dispostos a nos olhar de frente no espelho. Não sei por que isso acontece, mas é fato. Ao mesmo tempo não parece uma boa idéia ficar eternamente me perguntando esses "porquês". Olho então para mim mesmo não mais como num inquérito, mas numa proposta: o que pode ser feito de agora em diante? Que palavras eu quero dizer? Quero mesmo dizer alguma coisa agora?
Nem sempre as idéias são organizadas quando "escavamos" a procura de palavras. Mas um pensamento me chama a atenção. E se todo esse silêncio involuntário, essa dificuldade em dizer alguma coisa, for uma espécie de disfarce para nossa insatisfação com nós mesmos? Queremos estar bem, mas nem sempre nos permitirmos "falhar" nesse sentido. Daí nos calamos, dizemos sempre que "tá tudo bem" e deixamos esse "fracasso" longe dos nossos ouvidos. E, ironicamente, esse grito calado está dentro da gente. Por mais que se tema encarar os próprios medos, desilusões, frustrações, a única forma de se livrar com esses fantasmas é aceitar que eles existem.
Uma vez que se consegue olhar para dentro, eis a surpresa: do lado de tudo aquilo que queríamos esconder encontramos (muita) coisa que nos deixa felizes por simplesmente existirmos. Sim, também fazemos coisas boas. Mais até do que aquilo que deixávamos fora da vista. Daí se percebe que ao aceitarmos nossas falhas (ou o que pensamos ser falhas) enxergamos nossos acertos...
O melhor que se pode fazer então é viver o dia que se coloca ao alcance das mãos. O mundo não cabe nelas, nem somos obrigados a carregá-lo. Além disso, será que precisamos mesmo perguntar tanto "por que"? Não seria pretensão demais querer ter todas as explicações sobre tudo o que acontece? Que tal trocar a pergunta para "pra que"?
Pra que guardar tanta coisa?
Pra que se aborrecer tanto?
Pra que complicar tanto?
Pra que...?
Essas perguntas nem precisam ser respondidas. Basta fazer.
E é isso que eu quero agora.
Um comentário:
Prefiro o “silêncio involuntário” às palavras medíocres.
Lindas palavras, Paulo. Lindas e sinceras.
Beijos
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