Verborréias na madrugada
Pautamos nossas vidas em objetivos. O relatório a ser preparado, a dissertação a se escrever, as metas a se alcançar... Uma caminhada constante, em que lutamos para chegar a algum lugar, e lá encontramos um bilhete com nosso próximo destino.
Sem cessar, sem parar, sem vacilar.
E assim, cada um vai escrevendo sua história, registrando na memória (ou num pedaço de papel) os caminhos que foram percorridos e outros tantos que se planeja desbravar.
Mas às vezes esquecemos de pensar o porquê disso tudo. Qual o sentido de se levantar pela manhã e realizar as tarefas cotidianas? Aliás, será que temos sido competentes na tarefa de fazer o dia valer a pena?
Não sei se consigo expressar minhas idéias com estas palavras, talvez até elas beirem a filosofia barata. Mas o que quero dizer é que, independente de sabermos ou não o motivo pelo qual estamos respirando neste momento, temos sob nossos cuidados um bem precioso, repleto de mistérios, que nos instiga, intriga, excita, desafia. Podemos não compreender por que foi parar na nossa mão, ou as circunstâncias em que isso aconteceu; nada disso muda a realidade pura e simples de se estar vivo. Podemos até não conhecer inteiramente a razão da nossa existência... Ainda assim ela não é diminuída.
Mas quem aqui nunca se perguntou: "Por que estou vivo?"
E quem teve uma resposta imediata?
Podemos não saber o porquê, mas enxergamos a vida como uma identidade fundamental, um pré-requisito para todo o resto que alguém possa ter como objetivo neste mundo. E realmente ela o é. Se não fosse, não nos chocaríamos com notícias de tragédias ou crimes bárbaros. Nem nos alegraríamos com histórias de pessoas que realizaram grandes obras.
A vida é então algo tão próximo e ao mesmo tempo desconhecido. Temos dificuldade até para dizer que faltam palavras que expressem a dificuldade de se falar dela.
Por outro lado é simples e frágil como uma criança no berço.
Talvez a atitude mais sábia seja reconhecer que a vida, mesmo dentro da gente, está acima da nossa compreensão. A sabedoria de se saber ignorante diante do que, ou melhor, de quem simplesmente é maior que nós. A humildade de se dizer "não sei".
Simplesmente receber de mãos abertas esse presente e fazer valer a pena cada dia que ele passa nas nossas mãos. Um presente que tem em si um verbo, uma ação e nos traz uma ordem. Não decifrar, entender ou desvendar; simplesmente viver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário