terça-feira, 3 de julho de 2007

O tempo só é pouco se quisermos

O título deste post é tem sido uma constante pra mim nos últimos dias. Término de tese, trabalho de uma disciplina já do doutorado para entregar, reuniões finais do encontro de jovens, enfim, dias em que só parei para respirar na hora de dormir.

É nessas horas que vemos do que somos capazes. E como é bom se surpreender consigo mesmo.

Simplesmente fazendo uma coisa de cada vez, cada uma na sua hora.

E como tocamos no assunto, vou colocar um texto que recebi hoje. É longo, mas vale a pena ler. Sua paciência será recompensada, garanto!


Texto escrito por um brasileiro...

Já vai para 16 anos que estou aqui na Volvo, uma empresa sueca. Trabalhar
com eles é uma convivência, no mínimo, interessante. Qualquer projeto aqui
demora 2 anos para se concretizar, mesmo que a idéia seja brilhante e
simples. É regra!


Então, nos processos globais, nós (brasileiros, americanos, australianos,
asiáticos)ficamos aflitos por resultados imediatos, uma ansiedade
generalizada. Porém, nosso senso de urgência não surte qualquer efeito
neste prazo.

Os suecos discutem, discutem, fazem "n" reuniões, ponderações.


E trabalham num esquema bem mais "slow down". O pior é constatar que, no
final, acaba sempre dando certo no tempo deles com a maturidade da
tecnologia e da necessidade: bem pouco se perde aqui.

E vejo assim:


1. O país é do tamanho de São Paulo;

2. O país tem 2 milhões de habitantes;

3. Sua maior cidade, Estocolmo, tem 500.000 habitantes (compare com
Curitiba, que tem 2 milhões);

4. Empresas de capital sueco: Volvo, Scania, Ericsson, Electrolux, ABB,
Nokia, Nobel Biocare.. Nada mal, não?

5. Para ter uma idéia, a Volvo fabrica os motores propulsores para os
foguetes da NASA.

Digo para os demais nestes nossos grupos globais: os suecos podem estar
errados, mas são eles que pagam muitos dos nossos salários.

Entretanto, vale salientar que não conheço um povo, como povo mesmo, que
tenha mais cultura coletiva do que eles.

Vou contar para vocês uma breve história só para dar noção.

A primeira vez que fui para lá, em 90, um dos colegas suecos me pegava no
hotel toda manhã. Era setembro, frio, nevasca. Chegávamos cedo na Volvo
e ele estacionava o carro bem longe da porta de entrada (são 2.000
funcionários de carro). No primeiro dia não disse nada, no segundo, no
terceiro... Depois, com um pouco mais de intimidade, numa manhã, perguntei:

"Você tem lugar demarcado para estacionar aqui? Notei que chegamos cedo, o
estacionamento vazio e você deixa o carro lá no final." Ele me respondeu
simples assim: "É que chegamos cedo, então temos tempo de caminhar – quem
chegar mais tarde já vai estar atrasado, melhor que fique mais perto da
porta. Você não acha?".

Olha a minha cara! Ainda bem que levei esta logo na primeira. Deu para rever
bastante os meus conceitos dali para frente . . .

Há um grande movimento na Europa hoje, chamado Slow Food. A Slow Food
International Association - cujo símbolo é um caracol, tem sua base
na Itália (o site é muito interessante. Veja-o!).



O que o movimento Slow Food prega é que as pessoas devem comer e beber
devagar, saboreando os alimentos, "curtindo" seu preparo, no convívio com a
família, com amigos, sem pressa e com qualidade.

A idéia é a de se contrapor ao espírito do Fast Food e o que ele representa
como estilo de vida em que o americano endeusificou.

A surpresa, porém, é que esse movimento do Slow Food está servindo de base
para um movimento mais amplo chamado Slow Europe como salientou a revista
Business Week numa edição européia.

A base de tudo está no questionamento da "pressa" e da "loucura" gerada pela
globalização, pelo apelo à "quantidade do ter" em contraposição à qualidade
de vida ou à "qualidade do ser".

Segundo a Business Week, os trabalhadores franceses, embora trabalhem menos
horas (35 horas por semana) são mais produtivos que seus colegas americanos
ou ingleses.

E os alemães, que em muitas empresas instituíram uma semana de 28,8 horas de
trabalho, viram sua produtividade crescer nada menos que 20%.

Essa chamada "slow atitude" está chamando a atenção até dos americanos,
apologistas do "Fast" (rápido) e do "Do it now" (faça já).

Portanto, essa "atitude sem-pressa" não significa fazer menos, nem ter menor
produtividade.

Significa, sim, fazer as coisas e trabalhar com mais "qualidade" e
"produtividade" com maior perfeição, atenção aos detalhes e com
menos"stress".

Significa retomar os valores da família, dos amigos, do tempo livre, do
lazer, das pequenas comunidades, do "local", presente e concreto em
contraposição ao "global" - indefinido e anônimo. Significa a retomada dos valores essenciais do ser
humano, dos pequenos prazeres do cotidiano, da simplicidade de viver e
conviver e até da religião e da fé.

Significa um ambiente de trabalho menos coercitivo, mais alegre, mais "leve"
e, portanto, mais produtivos onde seres humanos, felizes, fazem com prazer,
o que sabem fazer de melhor.

Gostaria que você pensasse um pouco sobre isso...

Será que os velhos ditados "Devagar se vai ao longe" ou ainda "A pressa é
inimiga da perfeição" não merecem novamente nossa atenção nestes tempos de
desenfreada loucura?


Será que nossas empresas não deveriam também pensar em programas sérios de
"qualidade sem-pressa" até para aumentar a produtividade e qualidade de
nossos produtos e serviços sem a necessária perda da "qualidade do ser"?

No filme "Perfume de Mulher", há uma cena inesquecível, em que um personagem
cego, vivido por Al Pacino, tira uma moça para dançar e ela responde:

"Não posso, porque meu noivo vai chegar em poucos minutos." "Mas em um
momento se vive uma vida" - responde ele, conduzindo-a num passo de tango.

E esta pequena cena é o momento mais bonito do filme.

Algumas pessoas vivem correndo atrás do tempo, mas parece que só alcançam
quando morrem enfartados, ou algo assim.. Para outros, o tempo demora a
passar; ficam ansiosos com o futuro e se esquecem de viver o presente, que é
o único tempo que existe.

Tempo todo mundo tem, por igual! Ninguém tem mais nem menos que 24 horas por
dia. A diferença é o que cada um faz do seu tempo.

Precisamos saber aproveitar cada momento, porque, como disse John Lennon:
"A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro"...

E quer saber do melhor :

Parabéns por você ter lido até o final!

Muitos não lerão esta mensagem até o final, porque não podem "perder" o seu
tempo neste mundo globalizado. Pense e reflita, até que ponto vale a pena
deixar de curtir sua família. De ficar com a pessoa amada, ir pescar no fim
de semana ou outras coisas... Poderá ser tarde demais! Saber aprender para
sobreviver... Repasse aos seus Amigos, se tiver tempo...

Um comentário:

Catarina Chagas disse...

Paulinho,

Indiquei o seu blog para participar de uma brincadeira. Veja lá na minha página como!

Beijos